sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

16 de Outubro

16 de outubro de 2014, era pra ser só mais um dia comum. A noite passada tinha sido agradável, conheci uns cozinheiros peruanos num bar em uma daquelas travessas da Rua Augusta e apostei a janta com eles que o Galo ganharia do Corinthians, mesmo em desvantagem de 2 a 0 do jogo de ida, sai vencedor e o galo também, 4a1, fora o baile! Na tv políticos e suas propagandas de ataque, nas redes sociais pessoas defendendo partido, partidos se aproveitando das pessoas, na previsão do tempo frio pela manhã e calor intenso pela tarde. Resolvi colocar bermuda mesmo com o friozinho da manhã e pra me sentir ainda mais livre fui trabalhar de chinelo (sim, eu trabalhei de chinelo). Pra ir embora, trânsito lento no centro da cidade, condições do ar nada agradáveis, e suor escorrendo pelo rosto dentro do ônibus. Nem imaginava que esse suor escorrendo devido ao calor era um prazer frente ao que estava por vir. Eu que já estou acostumado com isso, fiz do banco do ônibus uma poltrona confortável e refrescante dentro do meu estranho mundo paralelo. No almoço eu resolvi que queria arroz, tomate, frango e música alta, numa playlist do Rap ao Rock, de Rael da Rima a Red Hot Chilli Peppers. O arroz parecia cozinhar nas batidas The Strokes, o tempero era do Chester Benington e o frango ficou tão delicioso quanto a Fergie em parceria com Slash, minto, a Fergie é bem mais gostosa que qualquer filé de frango. Em fim, curti o meu "momento Palmirinha" por uma horinha. Hoje precisava me animar, estou envolvido em projetos que vem exigindo muito da minha mente e da minha disposição, me deixando sem dormir durante várias noites, o que é ruim e ao mesmo tempo, ótimo pra minha carreira. E ao final da tarde estava eu levando minha moto pra fazer manutenção, pensando comigo mesmo quão bom seria tê-la de volta, após essa uma semana sem pilotar, me livrar do trânsito lento enfrentado dentro dos ônibus e de pagar passagem mais cara que o litro de gasolina. É muito mais econômico andar de moto em São Paulo do que carro, ônibus ou táxi. Estava próximo da oficina, quando de repente subestimei a falha que estava ocorrendo no carburador da moto e fui surpreendido. De relance senti que perdia o controle da moto, e mesmo devagar, quando vi já estava entre as carenagens por baixo de um carro. Só tive tempo de desligar na chave e cair no chão, com fortes dores na coxa e na mão, mas nada grave. Porém, um susto enorme, o dono do carro estava dentro e saiu acreditando ter sido atingido por um carro atrás devido ao estrondo e o barulho do acelerador que estava travado até eu desliga-lo. Senti naquele instante todos os problemas e dificuldades que enfrento pesando sobre minha cabeça, descendo tudo de uma vez, como um banho de água fria num dia frio, mas estava calor e um acidente era tudo que eu menos queria, tudo que eu menos esperava. Estava concertando a moto justamente pra vendê-la e comprar outra melhor. Agora, além da grana da manutenção ainda teria que arranjar dinheiro pra pagar a funilaria do carro que bati. Justo agora que venho investindo meu dinheiro deveras sofrido em novos projetos. Tive uma certa fraqueza, quando me levantei e a perna não obedeceu, me vi estirado no chão olhando pro rosto do dono do carro que estava me observando com certo tom de pena. Eu não queria aquilo, eu só queria fazer as coisas certas. O cara era legal, através dos seus olhos vi a bondade e compaixão, sua calma e serenidade ao me abordar demonstrou que aquele era o tipo de cara bom que ainda resta no mundo, nos seus trinta e poucos anos esperando sua esposa sair do trabalho. Tentei levantar novamente, e com toda força que ainda me restava fiz de tudo pra ficar em pé e não me deixar abalar por qualquer "quedinha". Me veio toda a letra de "vai clarear" do Projota, música que ouvi no almoço, bendito almoço revigorante. Eu amo comer, é o momento que me reabasteço, me animo, e me condiciono. Senti a calma na alma dos Moleques da Cone Crew pairar no ar, o menino se tornando homem ao dialogar e se colocar à disposição pra pagar os danos causados e dominar a situação como tinha de ser. Tudo foi conversado, a moto já está na oficina pra arrumar, não teve nenhum dano maior, o gelo já está na minha perna, logo melhora. Já está aqui também a motivação pra trabalhar e conseguir reverter essa situação, continuar tocando meus projetos pessoais e crescer mais ainda. Hoje era pra ser um dia qualquer, porém a vida me deu essa oportunidade de crescimento. Pensei por um momento, "Esse Deus arranja meios muito estranho pra nos testar...", e não deixei de acreditar. Vanguart já havia premeditado, após a introdução dos metais monstros: "Nessa cidade, tem uma rua, que eu não ouso mais passar". Hoje, seguir o caminho é o que me interessa, de preferência vivo e inteiro. Entretanto, quando eu dobro a esquina da minha rua, sempre espero algo novo. Certa vez ouvi o Will Smith falando sobre sua ideia de sentir que veio pra fazer diferença no mundo, num papel muito maior que os ocupados no cinema. Não por pretensão de grandiosidade, mas também sinto isso em mim, como se pulsasse em meu sangue um dom que ainda não descobri. Confesso que senti medo de morrer sem descobrir o que é que a vida ainda tem a oferecer, um pouco menos do que o receio que tenho de viver e não fazer a diferença positivamente nesse mundo. E mais uma vez Projota deu a letra, "Não importa qual Deus vocês escolher. Mas precisa acreditar em algo, mesmo que seja em só você". 

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